quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sou filha da mãe



 
Sou filha da mãe


Sou filha da mãe.
Filha da puta,
que puxa a carroça encarcada pra um lado
por levar todas as cargas,
e enfrentar vários sois ainda por vir,
e que se esconde no céu em cada lua nova
para chorar baixinho enquanto finge sorrir.

Eu sou filha da mãe!
Filha da luta!
Que limpa com uma mão o resto de parto,
e com a outra, mexe a massa do salgado,
pra não deixar morrer de fome
nenhum dos vermizinhos que pariu.

Eu sou filha da mãe gentil,
que com a cinta na mão, tantas vezes,
me deu o brio na cara que muitos não têm,
que me deixou cicatrizes profundas na alma,
mas que hoje, entendo muito bem.

Eu sou filha dessa mãe,
que não sabe escrever poesia,
a não ser com suas mãos calejadas,
e sua coluna entortada
pra ganhar o pão nosso de cada dia

Eu sou filha dessa deusa,
dos cenários de suores e labuta,
que de puta, santa, recatada e do lar,
é tudo que desejo me tornar.

Lilly Araújo - 30/09/16
(09:40h)

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Adjetividades inúteis



 
Adjetividades inúteis


Dispenso comentários sobre mim
— Linda, inteligente, educada!—
foda-se você e seus adjetivos vazios
e mais broxantes que sexo com DST.
Eu não preciso me medir a partir de você!

Eu não sou nada, não quero ser nada,
e a partir da convicção que tenho de mim
em relação ao universo sem finitudes,
passei a limpo milhares e milhares de minhas atitudes.

Foda-se tantas coisas!
Rasguei as velhas cartilhas.
Não quero, e não vou nunca mais,
ser “bela, recatada e do lar”.
Vou ser o que quiser a cada dia,
e todo dia vou mudar de ideia se eu gostar.

Não há mais ilusões dentro de mim,
pois degustei cada uma como aperitivo
de um copo de cerveja gelada.

A minha verdade nua,
tão nua como desejo estar,
baila livre com suas pregas, peles,
dermes e epidermes,
suores e líquidos hormonais.
Não sou o que fui, e esta,
partiu pra nunca mais!

Fiquei cética, fria; cínica talvez,
mas entendi por fim,
que a vida é um tabuleiro de xadrez.

Pra você que me olha,
e tenta me domar, cuidado
para que o seu coraçãozinho não enfarte,
porque minha próxima jogada
é xeque-mate.

Lilly Araújo- 04/10/16
12:36h

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