domingo, 24 de janeiro de 2016

Sem se perder a doçura


Sem se perder a doçura

Há de se conseguir ficar mais sóbrio
sem se perder a doçura.
Há de se aceitar os momentos amargos,
sem contudo se entregar à amargura.

Há de existir um equilíbrio
entre a tênue linha do racional,
e o mundo pueril,
esse:- cor-de-rosa e ficcional.

Há de existir, em algum canto escondido,
um olhar que não nos meça
com trena e compasso,
e onde a beleza caiba dentro de um abraço!

Há de existir um lugar
onde não seja sol escaldante,
nem afogar nas tempestades,
um mundo, ou submundo,
onde Amor possa ser de verdade.

Há de haver!
Eu hei de ver!
Esse lugar que inventei em meus sonhos,
e que um dia, por sorte,
acabo encontrando, ou então,
hei de morrer tentando.


Lilly Araujo 23/01/16

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Aula da natureza


"As folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes"
Manoel de Barros

Aula da natureza

As árvores sabem ser outono,
as folhas sabem cair sem alardes,
os galhos sabem ficar desnudos
e suportar o vento frio sem chorar,
porque conhecem as estações
e acreditam que o verão irá voltar,
também a primavera ‘multivida’,
e estão preparados para
o inverno gélido e impessoal.

Os galhos sabem aguardar,
e o fazem sem murmúrios, e
com grande resignação...

Sorte dos galhos, que não
sabem o que é ter no peito
esse insano coração!

O coração não sabe ser outono,
não admite ser inverno,
só quer viver do calor de verões,
e do perfume das primaveras.

O coração faltou
à aula da natureza.

Lilly Araújo 14/01/16 (9:29h)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Estou chuva


Estou chuva

Eu estou chovendo de novo!
Sou janeiro.
Sou verão.
Sou essa densa estação...

Estou chovendo
de minuto em minuto,
desse tempo que nunca para,
com essa dor que nunca sara.

Estou céu cinzento.
Melancolia, raios e trovões.
E rabisco o infinito de minhas solidões.

Estou criança amedrontada
e cachorrinho encolhido,
escondido no canto da sala.

Porque estou chuva!
Céu sem sol,
sem calor,
sem raios e sem fulgor.

Estou chuva
sem arco-íris,
canção de uma só nota musical,
nesse cantarolar que me faz tanto mal.



Lilly Araújo 11/01/16 

(19h)

sábado, 9 de janeiro de 2016

Caixa de Pandora


Caixa de Pandora

Eu te coleciono,
como se cada peça tua fosse minha,
e fizesse parte do meu ser.
Eu te coleciono a cada imagem,
a cada sorriso,
em cada novo amanhecer.

Eu te guardo
na minha Caixa de Pandora,
e a abro todos os dias,
sem ter medo de morrer.

Eu te sorrio e te choro
na mesma lágrima
e na mesma gargalhada,
porque já não sei
se és riso ou pranto.

E quando vens,
em nuvens, em sussurros,
em imagens ou lembranças,
eu me lembro que já morri,
quando de mim
se foram todas as esperanças.

E eu sigo a colecionar-te
em fragmentos revoltos.
Tua imagem sorridente e
teus cabelos soltos.

Ah!... Aqueles fios entre meus dedos,
e meus dentes entre teus dentes,
e o teu ser em minhas entranhas...

Eu te coleciono,
nesse forma de continuar viva,
dessa maneira tão estranha.


Lilly Araújo 09/01/16

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Cunhada no aço

Cunhada no aço

“This is Sparta”!
 E eu não vejo os meus 300...
O poço à minha frente...
O inimigo me espreita!

É curvar-se para sempre
ou morrer.
O cenário é esse,
sem ter para onde correr.

“This is Sparta”,
E eu meto o pé sem titubear...
Agora é a queda,
o poço,
a água,
o grito, a terra e a lama.

Derrubo com a fúria
da esperança de resistir,
sem saber como ou até quando...

Mas aqui é Esparta!
E eu fui cunhada no aço,
treinada para lutar.
Todo dia me despedaço
para depois me remendar.

Eu sou de Esparta,
com minha lança e minha espada,
minha coragem e meu broquel,
e sigo marchando,
em busca do paraíso ou da glória.
À procura do próprio céu.

Lilly Araújo 08/01/16
 12:30h

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Birra



Birra

Hoje estou indo de cappuccino gelado,
apesar do clima ameno, quase frio,
não quis tomá-lo quente,
não é disso que estou precisando pra me aquecer...
Vou de gelado, como alguns dias são...

Hoje esse sabor que tanto adoro
vai entranhar-me frio,
vai gelar-me toda por dentro,
ou não...

Porque o “calor da vida”,
aquele que flameja até no olhar,
não é de uma xícara de café
que eu vou retirar.

Hoje eu vou de gelado,
dentre todas as contradições
que há na existência,
essa é apenas mais uma,
que estando tão gélidos os meus dias,
eu dispense uma xícara de café quente...

Isso é só mais um protesto,
só mais uma birra,
dessas que dá na gente!


Lilly Araújo 07/01/16

(10: 30h)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Cova Rasa


Cova Rasa


Não adianta nem chorar,
as lágrimas não irão
me salvar de mim mesma.

Não adianta esse esforço
amostral de sofrimento,
se no fim tudo é capitalismo,
dinheiro e tormento.

Não adianta pedir socorro,
nem esperar uma mão amiga,
ou um olhar condescendente,
se eu tive todas as escolhas,
e escolhi ser pobre,
não adianta alegar, que
tenho um coração nobre.

Não adianta agora choro,
arrependimento ou pesar algum,
entre o céu e a terra,
ainda precisa haver uma cova.

Sou “cova rasa”.
Projeto de gente.
Indigente!


Lilly Araújo 06/01/16

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PS: Referências poéticas


https://www.youtube.com/watch?v=SevA-ekCX9k

Jogo da vida



Jogo da vida

Não sou artista,
não sou trabalhadora.
Não sou rainha,
nem sou peão.

Tenho todos os sonhos do mundo,
e de ilusão em ilusão,
vou esquecendo
de ganhar o próprio pão.

Não sou artista,
não sou rainha,
me recuso a ser peão,
me entravo entre o xeque e o mate.

Hoje,
especialmente hoje,
estou morrendo,
perdida nesse embate.


Lilly Araújo 06/01/16  (10h)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Estômago



Estômago

Dói-me o estômago logo cedo,
e reclama, descarado,
numa manha de criança
que esperneia até ser ouvida.

Dói-me insistentemente,
desconcentrando-me os pensamentos,
roubando-me as inspirações,
e fazendo-me parir esses versos
de pés quebrados.
(de pés e pernas e tudo mais).

Dói-me esse órgão,
parte de meu ser,
e  continuo apenas a escrever,
e componho insistentemente esse
meu poema claudicante.

Uma pausa para comer...
para beber meu café...
para parar de digitar...
para esquecer...

Dói-me o estômago,
e insisto em deixá-lo doer,
porque essa dor ainda é bem menor
que a saudade de você!


Lilly Araújo 05/01/16 (08:50h)

domingo, 3 de janeiro de 2016

Solitude


Solitude

Deixe que eu fique aqui mesmo
onde estou,
como um limo no casco
de um navio no porto,
que ao mar nunca mais regressou.

Permita-me a solitude dos mortos,
a vontade pouca,
e verdade dolorida e rouca.

Esqueça,
as palavras expressadas,
e adivinhe as não ditas,
para esquecê-las
logo em seguida.

Fica aí no teu silêncio usual,
não rompas o som,
porque o teu falar
me faz mal.


Lilly Araújo. 03/01/16 (21:16h)

sábado, 2 de janeiro de 2016

Uma flor



Uma flor

Hoje de manhã ventava muito,
o vento me uivava segredos
que eu não queria escutar.
Ventava chicoteante,
e árduo,
e feria-me os olhos suportar.

Foi então, ali,
bem no canto de uma calçada,
que notei meio desconfiada,
uma flor tenra e frágil
a despetalar-se sobre os açoites da vida.

Pus-me pronta a socorrê-la,
com uma compaixão
despretensiosa e gratuita.

— Guardei-a sob uma redoma.

Agora, era bela e frágil!
Frágil e bela!
E inocente!
E agora era bela, e frágil, inocente
e resguardada do vento.

Ah!(...) Esse vento profano,
que varre para longe os nossos dias,
e nossos sonhos,
e as crendices pueris do amor.

Mas não sobre ela.
Não sobre essa bela flor!


Lilly Araújo 02/01/2016 14:40h

Ano Novo



Ano Novo

O café... Ah! ... O café!
Esse meu fiel companheiro
em tempos quaisquer.
Quente, morno, frio,
com adoçante ou com uma bola de sorvete.
Esse café com chantilly no vai-e-vem do shopping,
ou no silêncio de meu quarto tão madrugador.

Esse café que me acompanha,
que me amarga, que me adoça.
Esse café bêbado!
Esse café que me ama!

Atravessamos outra vez mais um ano,
esse fatiar do tempo que nos alivia a carga da vida.
Chegou mais um reinício,
um restart de todos projetos,
de todos os sonhos e sentimentos.

Bem-vindo ano novo!
Brindamos com você às novas projeções,
aos novos amigos, aos antigos amores.

Tim-Tim Ano recém-nascido!
Eu levanto a você minha xícara de café,
esse meu companheiro constante,
de cada instante,
onde me pinto de mulher!


Lilly Araújo 02/01/16
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