Ensaio do sono
Preciso
dormir, porque as horas do relógio disparam, e amanhã é outro dia, outra
segunda-feira, e apenas uma segunda-feira a mais. Esse dia em que o ritmo frenético
das coisas do cotidiano recomeça com todo seu esplendor.
Preciso
dormir, porque amanhã o mundo não espera. A vida não espera! Não há nada
multicor que supere a frieza dos fatos em “preto e branco”.
Amanhã,
é de novo, o novo dia em que, à despeito de todas minhas preces e expectativas,
você ainda não chegou. Você, que nunca retornou, seja lá onde for que se ancorou
e simplesmente se esqueceu desse porto vazio que ficou a lhe esperar.
Esse
“porto” em que me transformei. Um “eu” soturno e sombrio, tomado de limo e
vazio, no profundo do cais silencioso que já não é mais, e que somente continua
pela incapacidade de simplesmente inexistir.
Preciso
dormir, porque a realidade se mistura pouco a pouco com o imaginário, e a essa
altura já não difere o que é, o que foi, o que penso ter sido e o medo do que
talvez nunca mais torne a ser.
Preciso
fechar os olhos e repousar. Desacelerar a respiração e o ofegar. Desconsiderar ansiedade
crônica que me dirige os passos do meu caminhar trôpego e inconstante.
Preciso
e vou dormir. Agora! Nesse exato momento, e confundir o relógio, o Caos e o Chronos, e entrar no meu mundo de
fantasias e mágica, lá, onde tudo é mais e é além. Onde posso brincar de faz-de-conta,
e você está também!
Lilly
Araújo 13/12/15